quinta-feira, 3 de novembro de 2016



Sobre ser negro no Brasil (título pretencioso né)


Com certeza o Brasil não é pra principiantes. Não lembro de quem é essa frase, mas acho que ela traduz muito do que é essa terra aqui. Nem de longe venho escrever um texto pretendendo ensinar algo ou dizer como é ou né. Não tenho tendência a querer explicar muito. Digo o que sinto e o que sei.
Ser negro aqui é estar numa terra que é reconhecida pela cultura negra, mas não cuida e respeita as pessoas negras, estar nessa dualidade é dolorido quando vemos notícias absurdas de como tratam os negros aqui. E a pior coisa é que quem não é muitas vezes cai na otaricie de pensar que não é bem assim, que é coisa da nossa cabeça. Da uma vontade de falar um monte de merda nessas horas, mas vamos lá né. Sorrindo comendo feijoada, ouvindo samba e jogando capoeira nossa sociedade adora a cultura negra mãaas, quando se trata do povo negro em questão lá vem monte de mimimi. Essas desculpas vão desde o papo de que "minha vó era negra", "trato minha empregada como se fosse da família", "meu amigo é negro" e a classica ''me relaciono com uma pessoa negra, claro que não sou racista". Meus lindos do coração, nada impede que operemos na lógica racista e ainda assim acreditemos que não somos racistas. Parece paradoxal mas não é. Pense. É tipo a pessoa que é contra a corrupção, mas da cinquentão pro guarda! A mesmíssima lógica.


Ao mesmo tempo nós negros damos conta de um duplo pensar e duplo agir que é bem desgastante.
Somos nós mesmos o tempo todo e ainda somos esse que a sociedade exige/permite que sejamos e que causa tanta angústia. Sabemos que estamos sendo observados pelo segurança, que o taxista talvez não pare pra nós, que a moça atravessa a rua mais rápido ao te ver, que a policia vai te encarar como bandido mesmo comprovando que você não é. Esse alerta constante que nós negros temos desde sempre pois carregamos na pele esses sentires, fazem com que sejamos muitas vezes cúmplices desses "pequenos" racismos que a sociedade comete. Muitas vezes somos duais porque não há muita alternativa. Se cada negro consciente do que acontece a sua volta dissesse na real aquilo que pensa, seria banido do lado não negro da sociedade, pois nosso cinismo, quando digo nosso incluo a todos nós, é tão entranhado em nossa vivência e forma de agir que naturalizamos essas violências. Pior do que naturalizar a violência é legitimar a violência.

Essa semana morreu um jovem aqui no Rio de Janeiro, numa comunidade/favela no Leme onde tem a tal da UPP (unidade de policia pacificadora). Sim um jovem de favela, não por acaso negro. Obviamente tiros não reconhecem cor de pele, mas o fato de dispararem contra a comunidade sem se importar com quem vai ser atingido é um indício que lá em sua maioria mora gente pobre e preta, porque somente contra gente pobre e preta o Estado age dessa forma. Nunca ouvi falar de polícia atirando a esmo em lugares onde mora gente rica e de maioria branca, nem preciso explicar essa equação. Né? Conforme a pirâmide social vai afunilando pra cima mais branca ela fica. Pode pesquisar. Em compensação nas comunidades não há quem não conheça essas histórias de violência e morte. Quais as chances de atingirem alguém que a sociedade vai realmente se importar ao ponto de parar tudo, ou isso ser uma notícia catastrófica e não mais um número nessa estatística de uma sociedade doente? A cara das comunidades vem mudando, em breve vão acabar atingindo uma criança branca loura e estrangeira, aí vão olhar com olhos de quem quer ver o que acontece nas comunidades. Espero que não precise chegar nesse ponto. Enquanto isso oremos.

Enfim sigamos!
Sobre coisas da vida e as tecnologias



Escrevo sobre qualquer porcaria que me venha na mente, mas atualmente ando mais voltado pra coisa da tecnologia e como ela nos afeta diariamente.
Eu fico longos períodos sem abraçar e ver amigos queridos e familiares (você que é meu amigo ou parente não fique puto comigo por eu passar muito tempo ser dizer um oi pessoalmente, pode perguntar pra minha mãe se não ajo assim normalmente), voltando ao assunto... Peraí teefone tocou agora.. Ah

Isso mesmo a coisa da tecnologia é prisão e liberdade. Pausa TDHA.. Tem um filme do Wim Wenders chamado "Tão longe tão perto", que não tem nada a ver com tecnologia mas me faz lembrar umas coisas, tipo essa vida virtual que observamos e participamos com likes, tweets e posts que na real muitas vezes nem conhecemos de fato algumas dessas pessoas. No filme é meio que isso, pessoas (anjos) que observam outras, mas não tem contato. talvez não tenha nada a ver e eu esteja apenas falando do filme porque eu gosto dele.

O foda dessa tecnologia toda é que as vezes ela acaba criando distanciamentos e impossibilitando encontros. Por outro lado é um artifício bacana para as pessoas mais tímidas, mas também possibilita o cyberbullying. Infelizmente muitas vezes parece uma vitrine as redes sociais. A tal da mensagem instantânea dos telefones é um saco. Agora não só podemos pentelhar uns aos outros como confirmar se a pessoa leu, se leu porque não respondeu, se não respondeu porque ignorou se ignorou.. AAAAAAAhhh. Que merda!

O que eu tava querendo dizer com isso tudo? Talvez devêssemos desconectar um pouco e olhar em volta. Outro dia estava no ônibus e olhei em volta tinha umas 15 pessoas e mais da metade estava no celular. Poderiam estar falando com a pessoa amada, lendo as ultimas notícias, conversando com alguém distante ou apenas passando o tempo. A questão é que essas coisas tomaram nossas vidas (olha que frase trágica). Provavelmente essa geração com menos de 20 anos (pareço um velhote) nem sabe o que é sair sem ter um celular em mãos, gps, rede social, youtube, instagram, facebook, snapchat, tweeter(alguem ainda usa isso?). As vezes saio de casa e não levo celular. Conheço poucas pessoas da minha idade na faixa dos 30 que não possuem algum. Conheço gente que não trepa, que não tem bichos, que não bebe, que não sonha, que não toma remédio, que não grita, que não cala a boca.. Mas atualmente acho que não conheço ninguém que não tenha celular, computador, facebook, email, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc,etc, etc, etc, etc, etc, etc, etcetc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc .etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc.etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc .etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc.etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc .etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc.etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, ET.
Ta bom ficou chato aloprar no etc. mas foda-se o blog é meu talvez ninguém leia mesmo, escrevo o que eu quiser.. hahahaha





Caso tenha curiosidade

link sobre o filme: https://www.youtube.com/watch?v=NFmnoabVJEI

Procedimento padrão..




De volta ao Rio de Janeiro
Hoje cedo voltando de Sampa, fui abordado por 2 policiais assim que desci do onibus de viagem. Nada demais, deram uma geral em mim e na minha companheira, pois ela parou do meu lado e eles não tinham como fingir que ela não estava lá. Logicamente o suspeito era eu né.. Segundo eles, procedimento padrão. 
Hum sei , to ligado.. muita melanina né..

Quando começaram a vasculhar minha bolsa tirei meu telefone do bolso e comecei a filmar. O policial meio boladinho perguntou se eu tava filmando pra fazer palhaçada e completou dizendo que não autorizava eu filmar ele. Com a calma de quem já foi parado dezenas de vezes pela polícia respondi que não tava filmando ele, tava filmando meu equipamento e que tinha o direito de filmar minhas coisas e nesse momento um deles enfiava a mão dentro da minha mochila que estava no chão procurando sei lá o que. Pararam. Disseram ok podem ir..
Minha companheira ficou puta! Com toda razão..
Eu fiquei de boa, já passei por coisas piores, essa foi bem suave nem tremi. Era umas 6 da manhã centenas de pessoas em volta dá quase pra ficar tranquilo na rodoviária Novo Rio. SQN.
A ironia disso é que eu me sentia num clima quase transcendental pq havia visto e abraçado minha familia, minha vó que faz aniversário hoje. Estava voltando de uma imersão artística fantástica no Afrotranscendence.. Estava orgulhoso de minhas origens e feliz por todos sentimentos profundos que senti junto dos nossos.
Estava rodeado de gente Negra..
Ah se aqueles policiais soubessem quantos negros carrego dentro de mim..
Sigo Preto! Vivo e Pensando..
Paz!

Originalmente publicado em facebook por Marcos Aganju Oju
 31/10/16

terça-feira, 14 de junho de 2016

Itamar Assumpção

Muito dificil

Pra mim Itamar é tipo matemática, se vc entender vc gosta se não entender fica de fora
Particularmente nem gosto de matematica, mas Itamar pra mim é tipo o Bitches Brew do Miles Davis (complexo) essencial.

Quando resolvi ouvir de verdade Itamar fiquei bobo, fiquei chocado, fiquei puto e fiquei triste. É serio mesmo que na musica brasileira  e gente consegue ter um cara desses e desperdiçar assim? Serio mesmo que um cara desse morre jovem e sem ser reconhecido? Serio mesmo?

Não vou fazer um guia aqui de como ouvir a obra dele, mas sugiro que ouça Beleléu e os isca de policia e a trilogia Preto Bras. Se não curtir ok. Demorei uns 5 anos pra sacar o som dele.

Beleléu Leléu Eu - Itamar Assumpção & Isca de Polícia (Full Album HD)


Garanto que é sempre uma surpresa tanto as letras quanto as musicas a mastigação de cada palavra que desce de forma deliciosa. Enfim é coisa pra degustar. Vejam também o documentário sobre ele, é bacana. Sempre sinto que esses caras são os essenciais sabe. Os imprescindíveis e o resto é só figuração. Ve-lo também é muito bom, aquele cara sabia encarar um palco. É uma aula. É vanguarda.

Itamar Assumpção e Banda Isca de Polícia = 1983 Sala Funarte , SP


A trilogia preto bras é outro papo, ta tudo ali maduro bonito. Aquele senhor dono do proprio caminho. Trabalho maduro e que chega até ser popular sem ser num tom pejorativo do popular.

Só as referencias que tem no som do Itamar já é um lance a parte papo pra madrugada a dentro. Tem muita coisa ali é só pegar. Que bom que a tecnologia hoje possibilita esses encontros. Itamar Assumpção é o cara do sec. XXI antes desse seculo chegar. Adiantadão.

Salve Itamar!

domingo, 1 de maio de 2016

Negro fora da caixinha


Texto meu publicado no Geledes

Queer, Outsider, Freak, Genius.. Estes termos todos se encaixam na hora de descrever Prince. Com apenas 20 anos de idade era multiinstrumentista e produtor, além de dançar e cantar ao ponto de sacudir a cena local que contava com um número considerável de grandes artistas, tais como Michael Jackson, James Brown, Marvin Gaye, Stevie Wonder entre outros. Isso só pra contar o básico da chamada Black Music. Mas Prince era excêntrico ousado e genial, essa mistura não é nem nunca foi facilmente aceita, menos ainda quando se trata de homens negros. Mas Prince chegou com sua dança, canto, falsete afinado, sensualidade não hétero normativa, performance visceral, solos virtuosos, roupas brilhantes, maquiagem e salto alto. Tomou a cena!
Numa época em que a ousadia artística era motivo pra se gravar um disco ou nunca conseguir uma gravadora.

Enviado por Marcos Aganju via Guest Post para o Portal Geledés 




Michael Jackson, James Brown, Jimi Hendrix, além dos alisantes de cabelos e suas performances arrebatadoras esses artistas tinham uma coisa em comum; eles modificaram a cara da musica pop mundial. Todos foram além do óbvio e fizeram história, se recriaram se reinventaram e puseram a musica deles na vanguarda. Ditaram novos passos. Mudaram as regras e recriaram o jogo. Foram rebeldes e a frente de seu tempo e do que a sociedade poderia entender e esperar dos jovens negros sobretudo a sociedade branca que não toleraria tão fácil seus filhos e filhas idolatrando jovens rebolantes e sensuais. Nesse cenário que nasce O Prince.
Que artista seria tão vanguarda, ao ponto de depois de uma carreira consolidada brigar com a gravadora e abrir mão do próprio nome e usar um símbolo para se representar? Prince o fez. No mínimo ousado. Ah esses rebeldes! A rebeldia tem um preço. Esses outsiders, que romperam a barreira da branquitude; essa que aceita, classifica e legitima. Esse negro que não se “encaixa” no normalzinho. É uma outra coisa, quando se rompe a barreira do “artista negro”, tem que se inventar um outro lugar. Esses geniais romperam a barreira e foram muito além de qualquer expectativa dentro do que se poderia esperar deles.
Quem são os que ousam pensar fora da caixinha?
Quem são os que ousam não ser a norma?
As portas foram escancaradas!
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http://www.geledes.org.br/prince-negro-fora-da-caixinha/

domingo, 17 de abril de 2016

Naná Vasconcelos.. oiçam

https://www.youtube.com/watch?v=bXdPkcvTb8I&list=PLNAv26cFMcFro5X03QqYKA817Ph2dTEN1



Storytelling, ou Contador de Historias é um disco de Naná Vasconcelos de 1995.
Sem duvida um dos caras mais influentes da musica, mas como muitos não é devidamente lembrado e ouvido. Lembro que ouvi pela primeira vez há uns 15 anos atrás. Estava fazendo uma aula, oficina de música na Mangueira e faltaram varias pessoas  nesse dia. Como sempre o Rio de Janeiro estava alagado.
Ficamos na sala conversando até que o Corsário (professor) lá pelo meio da conversa tirou um cd da bolsa e pediu a atenção. Lembro que foi um exercício de atenção. Nunca mais esqueci a primeira faixa do disco. Marcou profundamente a mim e minha companheira na época. Ouvíamos Naná quase todo dia. Copiamos e emprestamos o cd pra vários amigos. Naquela época não tinha essa coisa desenfreada (maravilhosa) de download, então a forma de acesso era através da copia mesmo. Isso foi em 2001, 2002. Pelo menos na minha realidade financeira não havia como ter internet, computador etc.
 O tempo passa a gente vive, casa, se muda, separa, casa, muda, estuda, trabalha, ri, chora, ama..
Perdi o bendito cd e era uma cópia da cópia, comecei a caçar feito louco e ninguém tinha, a maioria das pessoas que poderia pedir não tinham enfim, eu havia perdido o contato de vários amigos que poderiam ter uma copia dada por mim inclusive. Perdi o contato...nem tinha email..rs
Muitos anos depois fui trabalhar numa livraria cult bacaninha que vendia raridades de Jazz, World music e afins. Para minha surpresa havia no cadastro o disco. Com sorriso largo encomendei e o dito cujo nunca chegou, nem agravadora gringa que o lançara tinha mais o produto. Desisti, desencanei, esqueci, relembrei. Tentei via torrent, sites bolados de pirataria, youtube, vimeo, porracoisapracaralho. Desencanei. Um dia de madrugada joguei o nome do disco na net e pra minha surpresa algém tinha disponibilizado. Baixei ouvi e me reapaixonei.
Pra minha tristeza nunca pude dizer ao Naná o quanto sua musica é transcendental e o quanto toca as pessoas. Ele faleceu e eu nunca o conheci pessoalmente, mas sinto até intimidade ao dizer Naná. Falo como se fosse verbo. Quando converso com alguém sobre música (faço isso sempre) é quase certo eu falar do Naná como se fosse um Tio, Um vô... Aquele preto velho que carrega todo misticismo da musica dentro de si.
Que bom que existem Naná, Itamar, Milton, Djavan, Gil, Miles, Bob...
Sem eles a existência seria consideravelmente mais sem graça.

Obs. Na real eu pretendia fazer "tipo uma resenha'' do disco, mas na boa. Clica ai  embaixo que é melhor ouvir do que falar sobre. Nem precisa mesmo rs.

Fiquei super feliz de achar esse link:

https://www.youtube.com/watch?v=bXdPkcvTb8I&list=PLNAv26cFMcFro5X03QqYKA817Ph2dTEN1


Um dos melhores discos que ja ouvi. Salve Naná.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Por uma Educação Negra


Por uma Educação Negra


Muitas vezes durante o percurso depois de adultos e formados, nos deparamos com o fato de que a formação educacional em geral independente da aplicação da lei 10.639 não dá conta da demanda. Somos educados diariamente para servir o sistema. Esse sistema tem além das complexidades obvias da sobrevivência uma cor. A cor não é Negra, a não ser que o Negro se encaixe em algum padrão que possa gerar lucro, pois o capital a tudo se adequa inclusive ao Black Power caso ele possa servir ao sistema.  Pensando pra além do fato obvio que somos um país desigual e racista onde a democracia racial é um mito pra vender cerveja ou novelas, há algo de extrema urgência ao pensar os passos futuros da luta por Brasil menos desigual. Partamos do início: a educação de base. Crianças brancas são educadas como  brancas e isso não afeta a autoestima relacionada a sua branquitute, se o mesmo se aplicasse em relação as crianças negras o ponto de partida seria menos desigual ao sermos educados de forma consciente sobre nossa Negritude. Para quem acredita que isso seria uma espécie de binarização e um Apartheid social... Tenho uma péssima notícia: Ele já existe! É só olhar com atenção! 

Somos um povo em constante formação, mas a nossa formação também passa pela mídia que por sua vez serve ao capital, às grandes corporações, aos Trumps da vida que realmente governam o mundo e que estão pouco se lixando para o que acontece com os negros sulamericanos, pois bem sabemos que a "carne mais barata do mercado é a carne negra" e continua sendo, ainda mais no Brasil. 

A formação do nosso povo tem que vir também dos nossos semelhantes, pois a identificação se relaciona em muito com a autoestima e para se ter o mínimo de identificação temos que enxergar o que gostaríamos de ser, e como nem todos podemos ser Beyoncé sejamos pelo menos conscientes de que estamos em desvantagem e não será sem iniciativas a nosso favor que mudaremos o quadro. Sejamos francos! Desse lado dos trópicos se não investirmos numa educação negra sempre estaremos a mercê da desigualdade. Seremos sempre  uns Negros querendo algum espaço no mundo dos Brancos. É plenamente favorável adesão dos que não são negros na luta, mas temos que ter em mente que da mesma forma que héteros não devem definir e protagonizar a luta LGBT, homens não devem definir e protagonizar a luta das mulheres, brancos não devem definir e protagonizar o que é nossa obrigação e nossa luta.





Marcos Aganju
Musico , Pedagogo e Pesquisador

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Sobre filmes: Faça a coisa certa


Sobre o filme


FAÇA A COISA CERTA

SPIKE LEE


Porra... falar de um filme de mais de 25 anos de idade.. pra quê? É importante saber zé..
O “Faça a coisa certa” é um filme atemporal, ah tá bom poderia estar falando do Sétimo Selo, maaaasss. Já ouviu public Enemy? Então, acredito que faz mais sentido falar desse filme, don't believe the hype (não vai na modinha).
O Spike Lee que hoje é um dos diretores bem sucedidos na história do cinema feito por Negros fez esse filme com vinte e poucos anos. Hoje tem ótimos filmes com atores e diretores negros muito bem escritos e dirigidos e até algumas superproduções, mas em 88/89 isso não era uma realidade. Sobretudo pra aquele cara baixinho e não muito dentro dos padrões do que seria a linguagem cinematográfica padrão Hollywood.
A começar pela trilha que é simplesmente Public Enemy o filme já abre com uma canção que bate direto na cara da américa branca já em versos que esculhamba inclusive Elvis (vacilão).
Tipo assim :

Elvis era um heroi para maioria /Mas nunca significou merda nenhuma pra mim
Perceba o racista que aquele otário era/ Simples e claro
Ele e John Wayne são filhos da puta/ Porque eu sou negro e tenho orgulho
Estou pronto, atualizado e empolgado

Vai vendo como começa o filme.. caso não tenha visto vai lá, internet tá aí pra isso.. essa letra sendo cantada com uma mulher negra latina Rosie Perez dando seu recado. Imagina o impacto disso na cabeça de uma criança. Quando vi esse filme eu tinha uns 11 ou 12 anos. Hoje com mais de 30 já revi muitas vezes nem sei quantas. Talvez por uma questão de identificação seja o filme que tenha me despertado para cinematografia enquanto arte de dialogo possível, afinal vivemos no pais das telenovelas onde negro só aparece dentro daqueles padrões que estamos cansados de conhecer.

O filme é cheio de diálogos interessantes e diretos que vão direto ao ponto. O subemprego, o personagem principal é um jovem entregador de pizza, a violência policial momento que não vou contar mas é crucial até pra entender a escolha do título, a hipocrisia branca que convive bem desde que o negro não incomode muito. Relações inter-raciais, falta de trabalho, imigração, situação da mulher, do jovem e dos velhos, enfim. Tantas coisas que se fala que sempre que vejo descubro algo mais. Caso tenha interesse em conhecer ou já conheça essa é a dica. Existem tantos diálogos possíveis entre os manos de tantos lugares e tempos que se for só pra conhecer de forma básica sem aprofundar muito já dá pra ficar a vida toda sem ver e ler as porcarias que nos dão via rede globo etc. O filme evidencia o conflito de forma inteligente e engraçada. As vezes o engraçado é trágico.
O filme também encontrou importância histórica nos conflitos de Los Angeles em 92 (pesquisa lá que vc vai sacar o paranauê). Muitos jovens negros se sentiram encorajados a fazer a coisa certa.





Aí vai a sinopse fornecida no DVD:

Negros e brancos entram em choque dentro de uma pizzaria, após um longo dia de verão. Spike Lee, também autor do roteiro, baseia-se num episódio verídico para discurtir e polemizar sobre os conflitos raciais nos EUA. Exibido no festival de Cannes, o filme consagrou de vez o diretor, que também ganhou uma indicação ao Oscar pelo roteiro. 


sábado, 9 de janeiro de 2016

Sobre Livros: MARXISMO E A QUESTAO RACIAL, O: KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS FRENTE AO RACISMO E A ESCRAVIDAO







SOBRE O LIVRO:


MARXISMO E A QUESTAO RACIAL, O: KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS FRENTE AO RACISMO E A ESCRAVIDAO

MOORE, CARLOS



Karl Marx e Engels. Complicado falar dessas figuras históricas sem ser taxado de esquerdão ou reacionário caso discorde deles em algumas questões.

Carlos Moore, intelectual cubano de esquerda jogou no ventilador todo o odor do pensamento racista de Marx e Engels. São tantas as questões que ele ressalta que seria quase necessario escrever aqui ponto a ponto cada uma delas pra ser mais objetivo. Acho que vale ler o próprio. Infelizmente o livro hoje se encontra esgotado, mas soube segundo o tal do google que da pra ter acesso em pdf. Texto de importância ímpar sobretudo para os negros jovens que são levados a crer na boa vontade do barbudão alemão (ops desculpe o desrespeito com são Marx). Embora ele tenha escrito e teorizado coisas importantes sobre o nosso tempo a era do capital e seja uma figura que influenciou gerações e gerações da intelectualidade pelo mundo, vale ressaltar que Marx era sim racista e pra quem quiser pesquisar é só sentar e pesquisar um pouco que encontraremos muito sobre isso. Com ferramentas de tradução online dá até pra ter acesso direto a cartas dele em alemão que estão disponíveis pra busca caso queiram tirar as próprias conclusões.

Nunca acreditei muito na boa vontade do Tiozão alemão. Como pode tanta gente séria e honesta “passar pano” pra coisas tão bizarras. Veja a posição de Marx diante da escravidão norte-americana e sua posição diante da revolução haitiana. Primeira grande revolução do povo negro da diáspora. Trocando em miúdos ele tava de boa com a escravidão do povo negro e achava que tava tudo certo. No entando ele não gostava da opressão dos trabalhadores brancos Europeus. Nos pretin pode né!?A história alemã na segunda guerra explica boa parte desse olhar que vê o inferno no outro. Parafraseando aquele francês inteligentinho do Sartre.

Caso esteja com preguiça de ler vale ver “A Onda” filme alemão (Dennis Gansel, 2008). O filme explica como é fácil relativizar as coisas quando estamos inseridos num sistema que nos auxilia. O filme não fala de marxismo tampouco de racismo na perspectiva que estou evidenciando aqui, mas discute como é simples não ver o óbvio quando se é manipulado a crer que se está do lado “certo”. De qualquer forma é um bom filme. Fica a dica.

Voltando à questão... Como podemos entender as razões que fazem a esquerda “progressista” adiar tanto o debate sobre as questões que são importantes pra metade da população Brasileira? De boas nem vou aprofundar isso se não teria que escrever um livro e já tem muitos por ai fazendo um bom trabalho.

Acho que qualquer jovem negro deve conhecer onde se está pisando e se realmente vale fazer parte de grupos e instituições onde as questões da população negra está em segundo plano (as vezes nem isso). Quais os benefícios de fazer parte de grupos onde em nome da fraternidade universal, não se enxerga que o universo dos negros não é o universo dos brancos mesmo no Brasil da mistura. Olha o Freyre ai gente... Quando digo beneficio não é querer sair na vantagem. É se perguntar porque a luta negra sempre fica atrás da falácia que nosso problema é social e não racial. Por favor vejamos as estatísticas antes de cair nesse senso comum branco. Nunca conheci ninguém que tivesse lido mais do que uma orelha de livro que ainda acreditasse de verdade nesse discurso.