segunda-feira, 1 de abril de 2013

Sobre Livros: As almas da gente negra.


Sobre o Livro

ALMAS DA GENTE NEGRA,

DU BOIS, W. E. B.


Nas minhas andanças pelas livrarias e sebos da cidade do Rio de Janeiro sempre me deparo com surpresas interessantes. Dessa vez na típica feira do livro do centro da e cidade me deparei com o livro que já havia visto algumas referências, mas nunca havia parado para ler, por preguiça e falta de oportunidade, não nessa ordem. Almas da gente Negra, de W.E.B. Du Bois, homem que viveu uma era histórica sem precedentes pra história do povo negro, viveu entre o seculo 19 e 20. Viveu 95 anos dos quais participou e ajudou a fomentar boa parte do pensamento moderno sobre negritude. Para alguns ele é um dos pais do panafricanismo. Particularmente acho que ele é referencia para entender a história moderna e do negro americano. Muito se fala de Malcolm X, Martin Luther King, Mandela, Panteras Negras, Black Power (só pra citar os mais óbvios) e outros movimentos e pessoas menos conhecidos e difundidos, porém ouso dizer que toda essa movimentação talvez não fosse possível sem a abertura feita por pessoas como Du Bois, Marcus Garvey, Booker T. Washington, George Washington Carver, Madam C. J. Walker, Annie Malone, Ida B. Wells entre outras personalidades que ajudaram a reorganização do povo negro na perspectiva norte americana. Se fosse citar os brasileiros essa lista seria de igual importância, mas a idéia aqui é falar sobre importação desse conceito norte americano que tanto nos influncia inclçusive nas comparações do tipo,”mas lá nos estados unidos...”. De qual estados unidos estamos falando? Assim como o Brasil é um país cuja história é complexa e cheia de nuances que caracterizam a formação dessa ideia de nação.

Quando li Almas da Gente Negra, me deparei com fatos já conhecidos e outros que me foram surpresa como por exemplo o fato de os negroas estarem preocupados desde a abolição com a formação educacional para além do ler e escrever. Estou falando de o povo negro sendo médico, advogado, engenheiros, professores, cientistas desde o século 19. Fato que hoje causa espanto no brasil da miscigenação e outros blá blá blás. Parece óbvio hoje mas em 1863 acho que era um tanto quanto inédito para o povo negro recém saído desse regime escravocrata lidar com essa nova forma social de existência que precede o capitalismo que hoje somos tão íntimos. Já conhecia relativamente bem de história norte americana e direitos civis na perspectiva da luta do povo negro e mesmo assim tive várias surpresas ao ler esse livro. Descobri por exemplo que mesmo não tendo um candomblé e umbanda como temos no Brasil esses negros não se cristianizaram como nos foi mostrado pela história comum. Havia uma Black Church diferente dos moldes que hoje conhecemos como cristianismo protestante norte americano. Até mesmo essa forma de louvar que hoje conhecemos seja fruto desse jeito negro de ser Du Bois aprofunda isso nos últimos capitulos do livro. Havia o sacerdote que com o passar dos anos virou o pastor e havia no sul crenças religiosas que vulgarmente ficou conhecida como Vodu. A cristianização do negro norte americano foi de suma importância pra sua mobilidade social, visto que as igrejas eram os lugares de reunião e trocas de ideia. Confesso que não sou fã de Igrejas, mas percebo que cada história é uma história e não há como comparar sem cair em armadilhas e lugares comuns. No entanto não dá pra não perceber o quanto Estados Unidos e sua história nos influencia como povo da diáspora. Seja qual for o Negro em questão é importante saber quem está falando em que época contexto e lugar.

Por Marcos Aganju