segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Lembranças de Vovô

Conversa franca!

Meu avô era um cara debochado, uma figura daquelas.. Genioso e tal. Aries!
As vezes ele na hora de mandar um papo seco e direto ele dizia; “deixei de ser branco pra ser franco”. Na vida adulta entendi o que isso queria dizer. Quando era moleque, não entendia muito bem essa frase assim como outras que normalizamos no convívio familiar. Inclusive aquelas típicas “aja como homem”, seja lá como um homem age.
Percebi que na primeira grande dura cujo policial que me apontava arma era tão negro quanto eu quis dizer; “porra mano tá doido?”, mas tudo que consegui foi manter a boca fechada como aprendi desde moleque decorei o número da viatura e rezei em silêncio pra não ser levado pra averiguação. Averiguação pra jovens pretos de periferia significa desde tomar uns tapas até coisa pior. Enfim rezei para o melhor e foi tudo bem além da humilhação básica que só quem passou sabe o que é.

Cresci fisicamente e mentalmente e certas coisas da periferia a gente nunca esquece mesmo que passe a viver uma vida mais tranquila. Tipo um carro parado na esquina mesmo que não devamos nada pra ninguém nos faz desviar o caminho caso sejamos mais calejados e cabreiros. Perdi a conta de quantas vezes andei pela parte iluminada da rua só pra não causar suspeita. Sempre achei normal operar nessa lógica. Uma vez li um jornalista Ta-Nehisi Coats que disse que percebeu que isso não era normal sempre ficar tenso mesmo quando tá tudo bem e tranquilo. Por intermédio desse cara do outro lado do mundo vi que também compartilhava dessa angústia e que isso era praticamente o comum na vida dos homens negros nas grandes cidades do mundo (claro que sempre há exceções). Talvez esse também seja o motivo pelo qual nós negros estatisticamente vivamos menos. A tensão acumulada do dia dia. Só quem é sabe. Outro dia estava na rua e um menino de uns 10 anos com roupa de praia bermuda, chinelo e camiseta tava brincando no ponto de ônibus com 2 mulheres mais velhas que pareciam mãe dele ou algo assim pareciam bem íntimos. Percebi que conforme ele fez um movimento brusco umas mulheres que estavam andando pela calçada se assustaram. Coisa de criança sabe, mas o susto delas parecia que ele era uma ameaça à intranquilidade daquela rua movimentada às 5 da tarde. Pensei ser coisa da minha cabeça e continuei olhando de forma distraída até que reparei que uma corridinha que ele deu junto com as mulheres pra pegar o ônibus causou um movimento meio amedrontado em outras pessoas que estavam no ponto de ônibus. Talvez seja coisa da minha cabeça. Há 1 mês atrás fui atravessar a rua que pego o ônibus indo para o trabalho e percebi que um cara quase correu ao me ver chagar rápido demais. Confesso que quase ri dele, pois ele quase deixou cair o celular que estava nas mãos dele. Confesso que se eu fosse um muleque de 10 anos nem ligaria, mas como homem adulto e calejado que sou só pensei.. Ah vá Cuzão!




terça-feira, 12 de julho de 2011

Deseduca Brasil

     Falar de eucação é sempre meio bizarro pra mim. Sempre colei em quase tudo na vida e considero a escola um saco. Estranhamente virei pedagogo. Cara uma das coisas mais estranhas que ja escolhi na vida. Ta certo deixa eu explicar... Senta que la vem a História...
Sempre odiei os professores, com raras exceções (duvida da grafia excessoes* santo corretor) sempre tive um plano maquiavélico para destruir a escola. Pensava em varias merdas. Até que decidi que lá nao aprenderia nada de bom e pulei fora, passei muitos anos fora desse lance de estudar formalmente, mas estranhamente comecei a ler desenfreado. Descobri varios autores legais e pirei o cabeção. Caralho fiquei com mais raiva ainda da escola por perceber que escola na real desanima e distancia os jovens. Sobretudo as escolas de periferia. Não é culpa dos professores obviamente nem tem um culpado saca. É estrutural mesmo.
      Voltando ao assunto que me fez postar isso aqui.. Fui chamado pra falar num congresso/encontro de estudantes de educação na Baixada Fluminense. E o tema era pra mim era bem interessante, meio que falar sobre nossa relação pessoal com a educação e escola. Meio que fiquei chocado com as falas - nao todas. Fiquei besta de ver que vários estudantes e professores ainda defendiam a escola formal. Tipo eles entendiam a necessidade de mudança mais ainda tinham um apego com a coisa em si, o formato, o mimimi todo que envolve a educacão. Na época eu tinha acabo de ler um texto de um psicanalista que nao lembro o nome porque eram aquelas leituras obrigatórias d faculdade e o cara falou algo que tava na minha mente naquele momento. Algo como a ideia de que sem conflito a gente não evolui. Necessário romper saca.
    Estava lá eu cabeludo, barbudo, zueiro, camiseta do Bob Marley.. Pra falar de educação. Uma das falas que vieram antes da minha era sobre o projeto de educação com os indios. Eu simpatizo muito com a causa indígena e como cidadão negro não tenho como negar que se houve quem se fudeu mais no Brasil do que os Negros esses foram os os Índios. Pois bem...
    Bla, bla, bla, sobre educação e projetos do governo e veio o papo da educação como o grande projeto do Brasil.
     Eu tinha umas fichas na mão com uma espécie de guia básico do que iria falar e guardei no bolso e na hora de falar resolvi improvisar a partir do que havia ouvido nas falas anteriores.
     Resumo da ópera. Quem ama essa merda toda não vai mudar nada. Revolução se faz com ações. Naquele momento percebi que não nasci pra essa coisa toda e falei de improviso.
      Transcrição da fala que foi gravada por uma amiga:
"Sempre odiei escola, por isso vim estudar esse mecanismo porque acredito de verdade que ela está ultrapassada e é nossa obrigação ajudar a destruir esse sistema ineficaz. A melhor forma de andar pra frente e dar um passo qualitativo na vida é batendo de frente. No caso acredito que pra destruir esse sistema ridículo de educação que é excludente o ideal é desconstruir os padrões pré estabelecidos por ele. Enfim vamos destruir essas escolas, esses formatos, vamos parar com essa ideia de educar Índios. Eles é que tem que nos ensinar. Os índios não devem ser educados conforme o sistema capitalista ocidental, devemos sim respeitar eles e devolver seus direitos inalienáveis de viver conforme suas regras, não é esse sistema estúpido e falido que tem que ensinar ou dar educação aos índios. Temos na real é que pedir desculpas e devolver tudo pra eles. Acho um equívoco essa ideia e acho que vocês amam demais tudo isso pra romper com a lógica e fazer algo de verdade a favor da vida. (...)"
     Pior de tudo que todos aqueles caretas me aplaudiram e concordaram com o que eu disse embora eu saiba de coração que pouco vai mudar. Enfim só um desabafo.